O termo é auto explicativo, empreendedorismo afro esportivo é um um negócio liderado por um empreendedor negro que atua exclusivamente no setor esportivo. Porém, o que não está tão óbvio é o quão potente é para um esportista negro no Brasil reconhecer o poder da sua marca pessoal.
Em 2017 entrei para um projeto social em São Caetano, periferia de Salvador/BA, mas como todo projeto social não tinha luvas para todo mundo, por isso o mestre Cacau pediu para que quem pudesse comprassem a luva, e deu algumas dicas de lugares para comprar.
Eu já era jornalista e já acompanhava o mundo das lutas dentro e fora do Brasil, por isso, para mim era óbvio que iríamos comprar a luva com ele, mas para minha surpresa o professor não tinha sua própria marca de luvas e nem se quer ganhava uma porcentagem das venda das lojas que havia indicado.
Como uma boa cria da periferia Cresci aprendendo que o mestre da capoeira ou do boxe eram grandes referências respeitadas no bairro. No fundo eu queria desfilar com luvas escrito “Cacau” bem grande, e não tenha dúvidas que no bairro de São Caetano, periferia de Salvador, essas luvas fariam sucesso.
No empreendedorismo afro esportivo o poder está em reconhecer a sua marca pessoal e pensar quais produtos podem surgir dessa marca para gerar receita? Empreendedorismo negro ou marca pessoal, não são assuntos novos. Segundo o portal Sim a igualdade racial existem mais de 14 milhões de empreendedores negros no Brasil, além disso o empreendedor negro movimenta quase R$ 2 trilhões por ano, mas quantos desses números são do setor esportivo? Aqui está a novidade, reconhecer a existência das pessoas negras à frente de um negócio dentro do setor esportivo. Um ambiente tão hetero, masculino e branco.
No mundo do MMA também podemos encontrar atletas que possuem marcas potentes com receita expressivas. Como os irmãos Minotauro e Minotouro, sócios da academias Team Nogueira que já possui mais de 40 unidades abertas, ou Anderson Silva que conta com mais de 30 franquias de academias.
A lista de atletas negros no bussines é extensa e conta como nome como Zé Roberto e suas inúmeras palestra em grandes empresas, outro exemplo é o jogador de futebol Marcelo que atualmente é dono do Mafra clube da segunda divisão de Portugal que tem intuito de incluir jogadores brasileiros no mercado europeu, ou até o próprio fenômeno a frente do Cruzeiro. Isso sem contar os atletas entrando no mundo dos NTFs ou como sócios de marcas que estão apoiando.
A nível mundial a coisa está ainda mais avançada que o Brasil. Em sua visita ao país no mês de setembro, a tenista Serena Williams anunciou que está preparando uma nova captação de recursos para que seu fundo de investimento Serena Ventures possa investir em startups na América Latina. O Fundo criado em 2014 já administra cerca de 11 milhões de dólares.
“Minha história de vida é de quebrar barreiras e defender a inclusão, dentro e fora da quadra. Entrando em um esporte predominantemente masculino e branco, ao longo da minha carreira fui subestimada e mal paga. Agora, como uma investidora de capital de risco de startups em estágio inicial, me vejo nas fundadoras negras que muitas vezes são desconsideradas desde o começo”, escreveu Williams em um editorial de 2020 para a CNN Business.
Iniciativas como a de Serena são aclamadas, mas não é novidade. Em Atlanta acontece anualmente o Black Sports Business Symposium (BSBS), um evento disruptivo, apenas para convidados, que une, cultiva, fortalece e celebra profissionais e estudantes negros do setor de negócios esportivos. O BSBS serve como marco zero para a aquisição, engajamento e desenvolvimento de talentos negros nos esportes profissionais, abrangendo ligas, equipes, agências e além, para todos os níveis de carreira. O evento conta com o apoio da ESPN que faz a transmissão do evento online para inscritos, e claro que eu já participei.!
Com a pandemia do coronavírus as ações foram canceladas, Mia teve projetos que estavam pré-aprovados serem cancelados e precisou adiar muitas ações de esporte de rua. O impacto foi muito maior na vida de atletas negros, eventos esportivos foram cancelados, por conta do lock down projetos sociais fecharam as portas e muitos atletas perderam seu espaço de treino. Teve de tudo, medalhistas olímpicos vendendo marmitex, fazendo pizza, rifas, vaquinha, sorteio, leiloando medalhas e até colocando a vida em risco e dirigindo como motorista de aplicativo.
E quem saiu a frente? Atletas com o mínimo de conhecimento digital criaram o seu produto online e recalcular a rota. Foi o caso do treinador de boxe, Luiz Dórea, fundador da academia Champion que já enviou 14 atletas aos Jogos Olímpicos e até hoje não tem patrocínio. Em meio a pandemia, ele lançou o curso virtual de boxe dirigido realizado pelo zoom. Foram 4 horas intensas de puro conteúdo teórico e prático da metodologia Champion do mestre Dórea, tudo pelo zoom com mais de 100 pessoas presentes. Como eu sei? Eu estava lá.
Em um país que não apoia atletas negros, empreendedorismo afro esportivo é uma grande oportunidade para geração de renda e diversificação de receita. Se você dúvida disso, basta olhar a roupa de um lutador de boxe, mesmo não tendo apoio de uma grande marca, na roupa sempre tem o nome do mercadinho, de uma academia ou de uma loja do bairro. O atleta negro brasileira é uma marca potente capaz de mobilizar toda uma comunidade.
Yorumlar